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Conferència de Maria Cândida Moraes ( Introducció)
Complexidade e aprendizagem na educação de pessoas adultas no século XXI
A situação atual indica que estamos em um processo de rápidas transformações nas formas de viver/conviver, nos modos de fazer e de ser, sinalizando a dificuldade de se prever a curto, médio e longo prazo o que deve ser aprendido e quais as competências necessárias para habitar neste mundo em constante mudança, independente do grau ou modalidade de ensino.
Querendo ou não, nosso mundo real está cada vez mais globalizado e enredado e isto vem colaborando não apenas para o rompimento de diferentes tipos de fronteiras, mas também para a desestruturação dos ciclos de vida, tanto do jovem como do adulto, configurando uma realidade, a cada dia, mais complexa e difusa e que, por sua vez, vem acentuando novas formas de desigualdade social provocadas, inclusive, pela perda ou alternância de emprego em conseqüência do acelerado desenvolvimento cientifico e tecnológico, acrescido por períodos mais extensos de desemprego e pela agudização da brecha entre acumulação de riqueza e pobreza. Tudo isto vem afetando a vida das pessoas, tanto de crianças, como de jovens, adultos e velhos já aposentados, pois esta é a faixa populacional que tem um salário garantido todo final do mês e que tem ajudado a família a não passar fome nesses tempos de crise.
Tudo isto vem afetando as formas de SER, de VIVER/CONVIVER, assim como o FAZER de cada um, ou seja, a maneira de trabalhar, de escolher uma profissão e de conseguir sobreviver no mercado de trabalho a cada dia mais volátil, incerto e permeado de dúvidas, medos, inseguranças e incertezas. Todos esses fatores vêm também afetando a vida do sujeito aprendente e a do professor, o que vem exigindo uma reforma urgente da educação, pois é ela que continua sendo a condição crucial tanto para se conseguir uma convivência mais humana e feliz nesta nova ordem global pós-moderna, como para que os países possam alcançar níveis melhores de desenvolvimento humano.
Em realidade, o problema da educação não está apenas no que acontece por trás de seus muros, ou seja, a qualidade do serviço educacional que está sendo oferecido, mas, sobretudo, o que está sendo deixado de ser feito a partir de uma realidade, a cada dia, mais complicada e difícil. Sabemos que a qualificação profissional e intelectual e uma sólida formação básica são condições fundamentais para viver e sobreviver neste mundo incerto e mutante.
Morin (2000), com muita propriedade, sinaliza que os problemas atuais são de natureza multidisciplinar. E nós, acrescentaríamos que, em realidade, eles são de natureza transdisciplinar, por serem problemas transversais, transnacionais, globais e planetários que, segundo ele, implicam três grandes desafios: o da globalidade , o da complexidade e o da expansão descontrolada do saber . Para Edgar Morin (2000), tais desafios implicam a necessidade cada vez maior do individuo ser capaz de:
Dominar e integrar informações, transformando-as em conhecimento;
Revisar permanentemente o conhecimento para que o pensamento possa também ser revisado;
Reconhecer o pensamento como o capital mais precioso, compreendendo também que o maior de todos os desafios é a necessidade de afrontar todos os desafios de maneira interdependente. E, certamente, este é também o grande desafio da educação.
De acordo com Morin (2000), todos esses aspectos implicam uma reforma paradigmática na construção e reorganização do conhecimento e não apenas programática. Para ele, isto pressupõe uma profunda reforma no ensino para que este possa viabilizar a reforma do pensamento. Este, ao ser reformado, voltaria, de maneira recursiva, a promover outra reforma do ensino e, assim sucessivamente, numa escala evolutiva sempre crescente. Portanto, já não adianta ficarmos revisando apenas programas e currículos educacionais, melhorando uma coisinha aqui e outra ali, colocando este ou aquele “botox” no sistema educativo. Mais do que isto, é preciso mudar nossa maneira de pensar a educação e de compreender a realidade que nos cerca. É necessário tanto uma reforma de natureza paradigmática como também programática, pois não adianta discutir e repensar os paradigmas vigentes se depois o sistema educacional continua trabalhando da mesma forma, com os mesmos programas, projetos e currículos educacionais fragmentados e defasados da realidade.
A partir dos desafios sinalizados por Morin e analisando a situação atual caracterizada por avanços científicos e tecnológicos inimagináveis, pelas grandes transformações dos sistemas econômicos provocadas pela internacionalização crescente dos mercados e pelo aumento do fosso entre ricos e pobres, percebemos que, como educadores e aprendizes, nós não estamos devidamente preparados para enfrentá-los de maneira competente e congruente com a dimensão da problemática que se apresenta. Ao mesmo tempo, esta análise introdutória adverte-nos de que necessitamos cuidar da formação integral do aprendiz, independente de sua idade, para que ele possa, não apenas viver e sobreviver em uma sociedade mutante, na qual o saber é o principal determinante, mas também aprender a pensar de uma maneira mais global e integrada, a refletir e a descobrir, com autonomia de pensamento, soluções aos problemas, estimulando o pleno desenvolvimento de sua inteligência, de sua consciência e de seu espírito em evolução.
Assim, várias questões surgem e exigem respostas imediatas por parte dos educadores: Como contribuir para a formação adequada de pessoas adultas mais bem qualificadas para atuarem em uma sociedade complexa e mutante, atualmente muito mais exigente em termos de habilidades e competências? Como colaborar para diminuir as desigualdades sociais e regionais que a disponibilidade e o uso das tecnologias digitais também vêm aumentando? Como colaborar para a mudança dos paradigmas educacionais no que se refere à educaç ã o de jovens e adultos?
Certamente, inúmeras são as questões que nos preocupam. Elas não estão relacionadas apenas ao reconhecimento da problemática da globalização e a maneira como ela vem afetando a vida das pessoas, as formas de aprender, mas também à problemática inerente ao funcionamento de uma sociedade em rede, marcada pelo fluxo de energia, matéria e informação, cujo volume cresce a cada dia de maneira assustadora. Sabemos que o fluxo de informações e de saberes que circula no mundo é muito maior do que, em realidade, podemos dar conta. Sabemos, também, que é impossível conhecer todas as informações científicas disponibilizadas nos livros e na internet. Então, como fazer? O que devemos enfatizar em relação à educação do adulto: a especialização, uma sólida base geral ou ambas? Como desenvolver competências que permitam construir novos e múltiplos conhecimentos? Devemos continuar contentando-nos com as habilidades mínimas e exigindo pré-requisitos para aprender isto ou aquilo? Será mesmo que temos alguma idéia de quando é que teremos que usar esta ou aquela habilidade? Até quando continuará prevalecendo a causalidade linear e o determinismo como sendo as modalidades mais comuns e corriqueiras no que se refere à ocorrência de fenômenos, acontecimentos e processos?
Assim, para se viver/conviver e sobreviver nos dias de hoje com maior competência, autonomia, cooperação, solidariedade e harmonia, é necessário:
Desenvolver habilidades, capacidades e talentos que permitam ao sujeito viver e sobreviver na profissão escolhida, ao mesmo tempo, mudar de área ou de profissão no decurso de sua própria vida, já que inúmeras profissões estão surgindo em função do acelerado desenvolvimento científico e tecnológico e muitas outras estão desaparecendo rapidamente. Muitas delas estão emergindo em áreas fronteiriças, de natureza interdisciplinar ou transdisciplinar.
Ter acesso e dominar as diferentes fontes de informações e, ao mesmo tempo, desenvolver capacidade crítica no sentido de melhor reconhecer a confiabilidade das fontes de informações existentes para poder avaliá-las com maior discernimento.
Formar para uma vida de aprendizagem e trabalho, mais do que formar para um trabalho específico em uma determinada etapa da vida.
Aprender a viver/conviver com maior compreensão, sabedoria, respeito e tolerância em relação a si mesmo e aos demais.
Por outro lado, sabemos também que a questão de acesso às tecnologias não elimina a brecha digital que a falta de fluência tecnológica continuará a promover, pois um mundo mediado por tecnologias digitais requer muita criatividade, competência e habilidade por parte de qualquer sujeito aprendente. Assim, para se ter competência tecnológica é preciso ter também fluência tecnológica, o que para o professorado em geral continua sendo um tema complicado, especialmente para que aqueles que não são “nativos digitais” e que apenas começaram a usar a tecnologia depois de certa idade.
oje, mais do que nunca, necessitamos estar mais atualizados e conscientes a respeito da importância de se desenvolver um aprendizado ao longo da vida, o que, por sua vez, exige um re-planejamento do funcionamento das instituições educacionais, a partir tanto de uma reforma paradigmática como também programática capaz de transformar o pensamento e a ação daqueles que estão comprometidos com a educação. Em realidade, essas novas demandas requerem transformações profundas na educação e em seus respectivos sistemas educacionais. Exige também um novo profissionalismo docente, onde as tecnologias e demais instrumentos e recursos científicos e tecnológicos devam ser vistos como aliados ao processo de transformação do paradigma educacional vigente.
Maria Cândida Moraes
UCB/DF/Brasil
Junho/2009
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